Artigos e Ideias

O Exército Revolucionário de Reserva

Por décadas após a Revolução de Outubro, muitos intelectuais e formadores de opinião apoiaram o regime comunista soviético, sem necessariamente se engajar na militância revolucionária. Simpatizavam, apoiavam silenciosamente e, se o comunismo triunfasse em seus países, estariam prontos a abraçar a ditadura do proletariado. Eram os poputchik, na expressão cunhada por Trotski, ou companheiros de viagem, como ficaram conhecidos no Ocidente.

Hoje, sem um projeto comunista de caráter formalmente internacionalista como o da Rússia bolchevique, não há um centro de comando ou polo atrativo para a militância revolucionária. Mas isso não significa que desapareceram os que, sem energia ou estômago para se engajar na agitação revolucionária, se apressariam em celebrar a destruição do capitalismo ou o que quer que precise ser destruído em nome da utopia coletivista.

Longa vida à grande, invencível bandeira de Marx, Engels, Lenin, Stalin!
Longa vida à grande, invencível bandeira de Marx, Engels, Lenin, Stalin! (1953)

Geração após geração, renova-se o contingente de simpatizantes prontos a apoiar uma nova aventura totalitária, se a vanguarda revolucionária do dia conseguir tomar o poder. Esse contingente, a que se pode apropriadamente chamar de exército revolucionário de reserva, sempre existiu, em maior ou menor dimensão, desde que o marxismo e sua realização concreta no comunismo soviético tornaram-se a vertente predominante do socialismo utópico. Essa multidão, antes apenas pressentida, salvo por seus expoentes notáveis, pode agora, com o advento das redes sociais, ser observada na ebulição anônima dos milhares de indivíduos que celebram com euforia a censura, a perseguição de “reacionários” e o autoritarismo dos que se declaram árbitros da verdade.

A natureza humana apresenta enorme diversidade de tipos psicológicos e a experiência de única de cada pessoa gera necessariamente indivíduos com inclinações e perspectivas as mais variadas. É portanto natural que os fenômenos humanos se deem a interpretações cuja veracidade ou mesmo a validade sejam disputadas. Assim, na gama total de possibilidades psicológicas haverá uma parcela da humanidade que se inclinará para os extremos da precaução imobilizadora ou da irresponsabilidade voluntarista. Uma diferença essencial, entretanto, existe entre esses extremos. Se os conservadores radicais se caracterizam por sua relutância excessiva em acomodar a evolução cultural e institucional da sociedade, no lado esquerdo do espectro as inclinações utópicas se manifestam como desapego aos fatos e descolamento da realidade.

A campanha persistente de dominação cultural da esquerda, promovida principalmente pelas estratégias de ocupação de espaços e de controle do discurso, tem ampliado continuamente a parcela da população incapaz de lidar com a realidade, pelo atrofiamento planejado do pensamento crítico e consequente infantilização dos indivíduos educados sob sua influência.

As consequências deletérias desse processo não alcançam apenas os naturalmente inclinados a uma interpretação voluntarista da realidade, mas também massas cada vez maiores de pessoas cujo perfil psicológico natural é essencialmente equilibrado. E seu sucesso continuado empurra cada vez mais à esquerda o perfil político das novas gerações, que, além de submetidas a doutrinação ideológica, sofrem crescente pressão de grupo, fenômeno que já abordei em outro artigo.

Arrisco-me a dizer que o fomento desse exército revolucionário de reserva, cujas fileiras vêm sendo continuamente ampliadas, é uma ameaça tão grande à liberdade no Ocidente quanto os ativistas revolucionários per se. Convencidas de sua superioridade moral e da vileza dos que pensam diferente, as massas histéricas apressam-se em apoiar práticas de censura e supressão de dissenso, sempre em nome da purificação do discurso, do combate ao ódio, do expurgo do mal, em suma.

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