Artigos e Ideias

O Estímulo à Aquisição de Casa Própria como Política Anti-Socialista

A revista The Economist publicou artigo em que alerta para uma potencial crise habitacional em gestação no Reino Unido. A revista aponta que, em 2019, um quinto das pessoas entre 35 e 64 anos moravam em unidades residenciais alugadas de proprietários privados, o dobro do que se verificava uma década antes. Isso contrasta com a proporção das pessoas com mais de 65 anos atualmente morando nessas condições, cerca de uma em vinte.

Esses números mostram uma reversão da tendência de aquisição de residência própria, como o que ocorreu a partir dos anos 80 e 90, em consequência da facilitação de financiamentos imobiliários promovida pelo governo Margaret Thatcher. Ainda segundo a Economist, a projeção de uma proporção crescente de aposentados que precisam pagar aluguel deve se tornar um problema, pois boa parte deles não será capaz de arcar com a despesa sem queda significativa do seu padrão de vida. Entre as soluções que se vislumbram estão subsídios aos aluguéis e a oferta de residências estatais (“council housing”).

Photo by Daria Shevtsova on Pexels.com

Considerando o impacto político desse cenário, a matéria destaca que isso pode apresentar um desafio aos conservadores, pois embora o envelhecimento da população contribua para aumentar o apoio a candidatos conservadores, pessoas que moram de aluguel inclinam-se a votar nos trabalhistas. Segundo a revista, essa seria a razão por que os conservadores favorecem políticas para facilitar a aquisição de residência própria.

A matéria deixa de observar que comprar a “casa própria” ou morar de aluguel não são, para a maior parte das pessoas, meras alternativas de estilo de vida, mas resultado de disparidades de poupança privada acumulada. A perda de padrão de vida daqueles que se aposentam sem ter residência própria, em comparação com aqueles que a adquiriram, não é senão resultado do diferencial de poupança (ou de consumo) ao longo da vida.

À parte as disputas políticas, o estímulo à aquisição de imóvel próprio apresenta benefícios para os indivíduos e a sociedade. A aquisição de imóveis residenciais próprios aumenta a segurança dos indivíduos na velhice, enquanto reduz a demanda por subsídios governamentais ou outras formas de assistencialismo. Mesmo que seja preciso prover facilidades de financiamento, eventual subsídio à aquisição será potencialmente menos custoso, se somados todos os impactos financeiros e políticos, do que subsidiar os indivíduos na velhice, especialmente se isso for feito por meio pela oferta de imóveis públicos. Há também um importante aspecto pedagógico no estímulo aos indivíduos a que provejam seu próprio futuro. Por fim, ao reduzir a dependência do Estado, políticas de incentivo à poupança reduzem o potencial de aliciamento de idosos vulneráveis por políticos e ideólogos de viés socialista ou populista.

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2 comentários

  1. Para o Brasil sobreviver como nação nas próximas décadas.

    A estratégia do Porco Espinho

    O Brasil não tem capacidade bélica para se defender, e esta fraqueza gera grande agressividade contra o país e seus nacionais. Esta situação precisa ser revertida cuidadosamente, de maneira incremental, para evitar boicotes, bloqueios, embargos comerciais e até invasão por parte de nações interessadas em manter seu poder hegemônico.

    A América do Sul é a única região deste planeta sem guerras por mais de um século. O povo do Brasil se acostumou a isso e perigosamente se descuidou de sua segurança. O Itamaraty comete erro ao achar que, quando senta na mesa para negociar com potencias estrangeiras, será tratado como um igual. Isso nunca é o caso. Fracos, desarmados, incapazes de defender a sua própria casa, brasileiros são sempre tratados como pessoas de segunda classe, não merecedoras de respeito ou qualquer deferência. A desenvoltura com que líderes estrangeiros atacam o Brasil é direta consequência disso.

    A essencia da doutrina estratégica de defesa brasileira deve ser portanto copiada da Suíça, Finlândia e Israel. Basicamente tornar o país não passível de invasão.

    Para isso é necessário a completa reformulação da teoria de defesa do país.

    O Serviço militar obrigatório deve ser estendido a todos os homens a partir de 16 anos de idade, com treinamento curto mas intenso para todos,

    Todos serão reservistas até completar 40 anos de idade com obrigatoriedade de manter em sua residência um fuzil e armamentos municiados e adequados e também manter o seu treinamento em dia, o que requer a revogação de leis que promovam o desarmamento civil, e criação de novas leis para garantir a livre importação, fabricação e venda de armas de todos os calibres para todos os brasileiros sem antecedentes criminais. Também fundamental o apoio e incentivo governamental para a instalação no Brasil de novos e variados fabricantes de armas e munições.

    O efetivo militar do exército brasileiro deve ser aumentado para dois milhões de soldados na ativa, e treinamento e armamento militar devem ser estendidos a todos os soldados das PMs estaduais e municipais, transformando toda a Policia Militar do Brasil num efetivo contingente bélico brasileiro.

    Mísseis, tanques e armas em volume adequados para a defesa do país devem ser dispersos de maneira difusa por todo o território nacional para contingentes reservistas capazes de sobreviver a um ataque balístico não nuclear inicial.

    Bases aéreas e navais modernas devem ser construídas do extremo norte do Amapá, ilha de Marajó, Fernando de Noronha, Acre, Rondônia, Roraima, Cabeça de Cachorro, até o RS, incluindo bases dentro ou limítrofes a reservas indígenas situadas em zonas de fronteira, com grande concentração de investimentos no Amapá, provável alvo inicial do ataque a Amazonia brasileira, e na ilha de Fernando de Noronha, importante base de apoio a uma invasão estrangeira ao Brasil. A preparação e capacitação das forças armadas brasileiras para reação contra provável bloqueio marítimo ao país, imposição de uma “No fly zone” a toda a região ao norte do rio Amazonas, embargo internacional contra o Brasil, e invasão armada ao território nacional devem ser extensamente implementadas.

    Contratação, desenvolvimento e fabricação no Brasil de armas não dependentes de benevolência estrangeira devem ser alvo prioritário do BNDES e bancos estatais, e para isso é necessário olhar para tecnologias novas e em desenvolvimento. Quebrar o monopólio dos fabricantes de turbinas a jato por exemplo, é improvável, e portanto devemos desenvolver motores aeronáuticos a Diesel e elétricos, drones, mísseis leves e fáceis de operar. Também desejável é uma parceria com empresas indianas fabricantes de boas turbinas a jato.

    Engenheiros de armamento russos aposentados e na ativa, devem ser incentivados a imigrar para o Brasil, com oferta de cargos, salários, imóveis, cidadania, etc.

    Submarinos e navios franceses ou europeus são inadequados para a defesa do Brasil, e uma nova parceria com o Japão deve ser desenvolvida. O Japão tem uma das maiores marinhas do planeta e submarinos totalmente elétricos que tem muitas vantagens comparados aos submarinos nucleares franceses.

    Robótica, drones, mísseis hipersônicos e inteligência artificial são o caminho do futuro e devem contar com grandes investimentos do governo federal. No caso de mísseis e armamento nuclear, é absoluta a oposição de países estrangeiros a capacitação do Brasil nestas áreas, o que fundamentalmente impede o desenvolvimento de tecnologias locais. Novos caminhos devem ser buscados, incluindo a possibilidade de se comprar armamentos nucleares de países que queiram e possam vende-los.

    5G deve ser tratado de maneira estratégica. As empresas escandinavas Nokia e Erickson são fabricantes não chineses de ponta que deveriam ser alvo de compra de grande parte das ações destas empresas disponíveis em bolsa por empresas brasileiras com crédito do governo.

    Ouro: O governo do Brasil deve aumentar suas reservas de Ouro, até atingir 20 mil toneladas o que é a reserva estimada da China, para se defender de uma provável destruição do Dólar e do sistema financeiro internacional. Nenhum Ouro produzido ou estocado no Brasil deve obter permissão para ser exportado.

    Farmacêuticos: O setor farmacêutico no Brasil é um ponto de grande vulnerabilidade brasileira. Todos os “APIs” – Sal ou princípio ativo dos medicamentos classificados como essenciais pela OMS, são fabricados na China ou India. Dois países problemáticos que não deveriam ser responsáveis pela vida ou morte de milhões de brasileiros que dependem diariamente desses remédios para sobreviver. O governo federal deve incentivar a fabricação em território nacional de todos esses ingredientes por laboratórios nacionais ou estrangeiros, incluindo até doação dos custos de capital para se instalarem no Brasil.

    Fertilizantes e insumos agrícolas: O agronegócio brasileiro é um dos mais avançados do planeta e, sem margem de dúvida, o com mais potencial de expansão e crescimento. Tem como principal vulnerabilidade o fato do país ser quase que totalmente dependente de insumos importados para a sua produção agrícola. Fornecimento esse que seria facilmente interrompido ou terminado por forças estrangeiras. Um bloqueio marítimo ou embargo contra o país nos moldes do embargo contra o Iran ou Cuba destruiriam o setor no Brasil. Grandes jazidas de potássio foram descobertas pela Petrobras no leito do rio Amazonas e na plataforma continental brasileira. Essas jazidas devem ser postas em operação e o produção desses fundamentais insumos dentro do território nacional deve ser priorizada pelo governo federal.

    Acesso ao capital é conhecidamente o caminho para a prosperidade. Utilizado recentemente com grande sucesso pelas nações do sudeste asiático e a mais de duzentos anos pela Alemanha, este caminho usa bancos pequenos que atuam em suas respectivas pequenas áreas de influência e são o verdadeiro motor criador de riqueza e desenvolvimento. Os EUA tem mais de 5.000 bancos, a China por volta de 4.000, a Alemanha tem 1700 pequenos bancos sem fins lucrativos que controlam incríveis 70% do setor bancário alemão, e o Brasil menos de 200 bancos ao todo. Bancos são os criadores de riqueza quando não oferecem crédito a especulação, e sim a atividades estritamente produtivas, que gerem aumento real do PIB e da produtividade econômica. Pequenos bancos e cooperativas de crédito sem fins lucrativos e sem possibilidade de serem comprados por instituições maiores devem portanto ser criados até atingir um número compatível com o tamanho do Brasil. O caminho da centralização econômica, que sempre existiu no Brasil – e que agora se agiganta com a criação da moeda digital do Banco Central – deve ser revertido e a descentralização econômica e politica deve ser buscada.

    SISFRON: Se o objetivo do governo federal foi somente combater tráfico de drogas e contrabando com o Sisfron, melhor tivesse dado a Polícia Federal 10% do que se gastou com esse programa até agora. A segurança nas fronteiras do Brasil seria 100% melhor do que se apresenta hoje. Segundo o Exército, decorridos tantos anos após o lançamento do programa, somente 60% do projeto-piloto do Sisfron está implantado em 695 km da fronteira, de Mundo Novo a Caracol, no Mato Grosso do Sul.

    As Forças Armadas brasileiras já demonstraram diversas vezes que não querem, não podem ou não conseguem se envolver de forma permanente com o combate ao crime. Querem atuar de maneira ‘pontual’, e isto é improdutivo e ineficiente. O sistema Sisfron, como proposto, tem pouca eficiência, e nenhum resultado real. Radares por si só não servem para muita coisa. Eles têm que estar operantes e à disposição permanente das forças policiais, que por sua vez, também, precisam de investimento para amplas condições de atuar. Não adianta ter a informação de que 100 aeronaves cruzaram a linha de fronteira, se o sistema não prevê a forma de interceptá-las.

    É necessário desenvolver-se um plano bélico específico para a fronteira, com verba carimbada, destinada a equipar e capacitar o poder bélico militar para atuar em possíveis invasões armadas ao território brasileiro, mas também incluir no programa forças policiais para a repressão ao contrabando e ao narcotráfico, além de estruturar o serviço de inteligência da polícia, e das forças armadas.

    Nesta região de 16.000 Km de fronteira seca deveria se buscar formas para constituir grupos de repressão binacional, com integrantes das polícias e do Ministério Público, escolhidos rigidamente, que tivessem autorização para atuar em ambos os lados da fronteira, e desenvolver uma rede de segurança para telecomunicações criptografadas, com voz e dados integrada com todas as forças governamentais.

    Aviões anfíbios para a defesa da Amazonia devem ser fabricados.

    A FAB tem alguns aviões de vigilância, guerra antissubmarino e patrulha marítima de longo alcance. Tem em andamento o programa de modernização de parte da frota do Bandeirante e a montagem no Brasil em muito pequena escala, do caça sueco Gripen com avionics e motores importados de países estrangeiros. O desenvolvimento de tecnologia para fabricar caça brasileiro, bimotor de sexta geração deve ser financiado pelo governo federal. A Embraer defesa seria escolha inicial para tal proposta, que provavelmente não teria êxito, mas a tecnologia e Know How desenvolvidos não seriam perdidos, e poderiam ser usados num upgrade nacional para o Gripen.

    Não é necessário dizer que a quantidade disponível e a planejada de equipamentos e investimentos em defesa está muito abaixo das necessidades mínimas para se vigiar e defender de forma apropriada toda a área jurisdicional brasileira, mesmo se pensarmos apenas em esclarecimento marítimo. Um fator complicador é que as plataformas que executam este tipo de missão costumam ser complexas e dotadas de sensores diversos, quase todos importados e dependentes da benevolência alheia.

    Durante quase 6 décadas, as forças armadas brasileiras não receberam a importância devida, e de fato, o Brasil foi vítima de criminosa politica que desarmou o país e praticamente o entregou aos estrangeiros. Reverter esta situação é questão vital para a sobrevivência do Brasil.

    A área marítima de interesse estratégico para o Brasil estende-se do Trópico de Câncer até a Antártica.

    Nessa área existe um colar de ilhas, todas territórios de países do Hemisfério Norte que podem ser fácilmente usadas como base para uma possível invasão ou ataque ao Brasil.

    Para efeito deste argumento foi considerada uma faixa de 200 milhas do território a partir do litoral, na qual está localizada a maioria das capitais estaduais, praticamente todo o parque industrial nacional, a maior parte da malha rodo-ferroviária do país, os principais portos, as mais importantes instalações militares da FAB e da Marinha, inclusive Bases Aéreas e Navais, Parques Aeronáuticos, Estaleiros e Sítios de radar para controle do tráfego aéreo e da Defesa Aérea. Com os modernos armamentos existentes, toda essa aérea não sobreviveria intacta a um ataque aéreo inicial vindo do mar, quer seja por meio de aviões ou por meio de mísseis lançados de unidades navais hostis ou mísseis intercontinentais.

    A FAB e a Marinha são responsáveis, em conjunto, pelas operações da quase inexistente vigilância do Atlântico Sul. O país nunca contou com uma guarda costeira, que deveria ser um objetivo importante da estratégia de defesa do Brasil.

    A área economicamente desenvolvida está praticamente localizada ao longo da costa brasileira com o oceano Atlântico, caracterizando uma faixa paralela que, nas áreas de maior concentração industrial, tem uma largura aproximada de 200 milhas. Ao longo desta faixa de área estão situadas as principais cidades e as principais indústrias do País.

    A economia brasileira é dependente direta das linhas de Navegação Marítima para a execução do comércio internacional e de parte expressiva do comércio nacional. Em valores, 95% do comércio internacional é realizado por via marítima. Para tal, milhares de navios utilizam, anualmente, os portos principais do País. Só de petróleo, por ano, são importados milhões de barris.

    O Brasil depende de sua Plataforma Continental para a exploração de recursos minerais e energéticos, a qual responde por grande parte da produção nacional de petróleo. A Plataforma Continental configura ZEE, cuja área totaliza 3.168.000km². Isso representa um adicional de responsabilidade de 40% a mais aos 8.512.000km² de área territorial em termos de segurança.

    A efetividade do Poder Naval depende do desenvolvimento da capacidade de controlar o acesso às áreas marítimas vitais para o País. Cabe ao Poder Naval:

    ● garantir a integridade do mar territorial e da área marítima sob jurisdição brasileira;
    ● defender os centros industriais litorâneos e/ou que se situam próximos à costa;
    ● garantir a liberdade de exploração dos recursos do mar; e
    ● garantir a liberdade de circulação das linhas de navegação marítima.
    ● controle de área marítima;
    ● negação do uso do mar ao inimigo;
    ● contribuir para a dissuasão.

    A Aviação de Patrulha é um importante meio do Poder Naval, além de ter capacidade de executar outras missões, em função das possibilidades tecnológicas dos seus equipamentos.

    A área marítima de interesse estratégico para o Brasil, estende-se do Trópico de Câncer até a Antártica, abrangendo todo o Atlântico Sul. É nesta área, portanto, que a capacidade marítima do País precisa ser adequadamente desenvolvida. Isso leva décadas. A construção de navios, treinamento de marinheiros e operadores, etc, é uma empreita de gerações, e deve ser alvo de grandes investimentos pelo governo federal.

    Como mencionado anteriormente, a área do Atlântico Sul é pontilhada de ilhas que propiciam, a quem as domina, uma posição estratégica muito importante. Estas ilhas formam um colar que vai até as Malvinas e são todas territórios de paises do Hemisfério Norte, constituindo pontos de apoio ao longo de toda essa extensa área.

    A aplicação do Poder Naval, para que a mínima capacidade Marítima seja exercida, depende do grau de efetividade na execução de determinadas tarefas, bem como da capacidade de desenvolver ações para a consecução dessas tarefas.

    A evolução tecnológica aponta para a convergência de várias tecnologias considerando que as modernas aeronaves, principalmente as de longo raio de ação, têm capacidade multifunção.

    Para realizar ações para desenvolver a capacidade marítima, as Aeronaves de Patrulha Marítima necessitam atender determinadas características essenciais:

    ● longo raio de ação e muito baixo custo de operaçāo;
    ● grande capacidade de busca;
    ● sensores sofisticados para emprego em áreas marítimas e multimissão
    ● sistema avançado de Comando, Comunicações e Controle, e
    ● armamento diversificado em quantidade adequadas.
    Para que as ações no cenário da guerra de superfície sejam atendidas é ainda necessário:

    ● radar de busca com alcance de, no mínimo, 200 milhas náuticas;
    ● capacidade IFF;
    ● capacidade de fornecer imagens SAR/ISAR;
    ● processador tático; e
    ● visão EO/IR

    Nas ações do cenário da guerra anti-submarino é essencial a existência de Sensores e Processador Acústico e de Detector de Anomalias Magnéticas, assim como na guerra eletrônica é preciso ser capaz de coletar dados para a formação de inteligência sobre as atividades de comunicações e sobre a emissão de outros sinais eletromagnéticos.

    O armamento diversificado engloba torpedos, mísseis ar/superfície e bombas de profundidade.

    O modelo de atuação da Aviação de Patrulha depende dos seguintes fatores:

    ● do modelo de atuação da Marinha do Brasil, por ser ela o seu principal cliente,
    ● das características brasileiras, em especial a posição geográfica, o extensão da costa , a posição das áreas marítimas vitais para o interesse nacional e a dimensão da área oceânica de real interesse estratégico.

    A Marinha do Brasil divide seus meios navais em Forças Distritais e Esquadra.

    É da Esquadra a responsabilidade de exercer a força Marítima em situações de guerra e de paz, assim como são as Forças Distritais responsáveis pelo patrulhamento constante da Zona Econômica Exclusiva e dos rios, estando para tal desdobrada ao longo da costa, na fronteira oeste e na Amazônia. Considerando os 7.408 quilômetros de costa contínua, a ZEE abrange cerca de 4.400.000 quilômetros quadrados de área que deveria ser patrulhada.

    As maiores preocupações nesta área estão por conta do apoio à Marinha nas tarefas de exercer os direitos brasileiros sobre a ZEE, particularmente nas zonas pesqueiras, evitando sua violação por frotas de pesca chinesas como recentemente ocorreu a um país vizinho, e de outros países, e nas áreas de exploração de petróleo. Somam-se a estes problemas a ameaça constante do contrabando, descaminho e outras atividades ilícitas, cuja prática é favorecida pela extensão da costa.

    Para cumprir a rotina das ações dentro da ZEE, a Aviação de Patrulha pode usar aeronaves de configuração simplificada, haja vista que estarão, na grande maioria das vezes, cumprindo missões de apoio às Forças Distritais. Sendo assim, as aeronaves completas, com capacidade multimissão, deverão estar sempre disponíveis para as ações de engajamento da Esquadra, bem como sediadas o mais próximo possível dos meios navais com os quais irão operar.

    É ainda importante considerar as seguintes áreas e situações sensíveis dentro da grande área marítima de interesse nacional, como base para o desenvolvimento dos processos conjuntos de levantamento de dados e análise, assim como de reação em situações de emergência e crise:

    ● Linhas de Comunicações Marítimas;
    ● Foz do Amazonas;
    ● Centro de Lançamento de Alcântara, já palco de ataque e sabotagem por país estrangeiro.
    ● Controle da exploração dos recursos da ZEE;
    ● Bacia de Campos e outras áreas petrolíferas;
    ● Rotas marítimas do Mercosul;
    ● Usina nuclear de Angra dos Reis, que se atacada, destruiria Rio e SP, com milhões de mortos.
    ● Busca e Salvamento.

    As Linhas de Comunicações Marítimas geram uma média de grande numero de navios/dia, saindo ou vindo para portos brasileiros e distribuídas do seguinte modo:

    ● Rota do Oriente Médio, Ásia e África do Sul;
    ● Rota da América do Sul;
    ● Rota Centro Africana;
    ● Rota da Europa e Atlântico Norte;
    ● Rota do Caribe e América do Norte; e
    ● Rota Nacional de Cabotagem.
    Ainda sobre as Linhas de Comunicações Marítimas, convém ressaltar a importância do saliente nordestino por ser uma convergência natural das rotas das Américas, Europa e Centro Africana.

    Quanto à área da Foz do rio Amazonas, nota-se que a sustentação da infra-estrutura e do comércio de toda região da referida bacia é dependente direta da via fluvial, sendo a foz o único meio de comunicação em grande escala com os demais portos nacionais e estrangeiros. Uma interdição aos movimentos marítimos nessa área, como recentemente ocorrido no canal de Suez, provocaria colapso em toda a região, e seria provavelmente o ponto de inicio do ataque a Amazônia brasileira.

    Por extensão, a área marítima fronteira ao Centro de Lançamento de Alcântara teria sido também uma área sensível para a segurança nacional, por ter sido esta a região de maior concentração da capacidade aeroespacial brasileira, mas já foi alvo de ataque de sabotagem que destruiu a área e não mais representa potencial defensivo essencial para o Brasil.

    O controle da exploração dos recursos na ZEE, em especial o da exploração de petróleo na Bacia de Campos e em outras áreas petrolíferas tem importância pela forte dependência do País dos recursos da Plataforma Continental. A grande extensão da área e dos pontos vitais nela contidos, demanda a aplicação das Aeronaves de Patrulha Marítima como meio de multiplicação da capacidade da Força Naval, tanto em função da velocidade como da mobilidade.

    Também de grande importância é a Rota de Cabotagem na área sul do País, não em função dos objetivos exclusivamente nacionais mas pelo significado que representa para a economia das nações do Mercosul. O tema já é objeto de alguns raros exercícios navais integrados com as incipientes Marinhas da região, que são completamente incapazes de defender seus respectivos países, e que seriam facilmente derrotadas nas primeiras horas de combate com forças estrangeiras.

    Lições para o Brasil da guerra entre a Armenia e o Azerbaijão

    Em 9 de novembro de 2020 um armistício foi assinado para encerrar os combates em Nagorno-Karabakh entre a Armênia e o Azerbaijão. O conflito teve vida relativamente curta, durando de 27 de setembro a 9 de novembro de 2020, mas provou ser um conflito intenso travado por dois oponentes fortemente armados. Ambos os lados empregaram tecnologia militar avançada, com o Azerbaijão sendo o vencedor decisivo da guerra.
    As implicações deste conflito continuarão a reverberar fora da região, devido ao seu significado tanto para as potências regionais quanto para as grandes potências, ao mesmo tempo em que ensinam sobre guerra moderna.

    O uso bem-sucedido de drones pelo Azerbaijão provou ser uma sensação tática, embora tenha somente confirmado lições de longa data sobre o efeito devastador que o poder aéreo pode ter sobre uma grande força terrestre com defesas aéreas relativamente fracas. O uso de sistemas de aeronaves não tripuladas (UAS) neste conflito marca uma evolução mais do que uma revolução nas aplicações do poder aéreo.

    Militares olham para guerras como Nagorno-Karabakh para “insights” sobre capacidades, doutrina, arte operacional e como suas forças podem se sair contra adversários armados de forma semelhante. Os Estados Unidos sempre buscam conflitos, como a Guerra Árabe-Israelense de 1973, para definir a direção de seus investimentos futuros e, conseqüentemente, procuram por lições em guerras como o conflito russo com a Ucrânia ou a guerra da Armênia com o Azerbaijão.

    Em termos de capacidades, me parece claro que os sistemas operados remotamente oferecem a vantagem do poder aéreo, sensores e armas guiadas com precisão para o Brasil, a um preço drasticamente reduzido em comparação com o custo da aviação tripulada. Essa tecnologia está se difundindo muito mais rápido do que sistemas de defesa aérea sendo projetados para lidar com isso. Eventualmente acabarão por alcançá-los, mas, nesse ínterim, os drones, especialmente os drones de munições, representam um desafio significativo para as defesas aéreas e forças terrestres modernas. O conflito de Nagorno-Karabakh ajudou a resolver a questão se as defesas aéreas tradicionais, como os sistemas soviéticos empregados pela Armênia, seriam adequados ou adaptados para lidar com drones contemporâneos. A resposta é decididamente negativa, especialmente quando combinações de drones são usados para identificação de alvos e ataques, ou por meio de táticas de saturação ou enxame de drones.

    Embora a defesa aérea moderna pareça ter um histórico de desempenho irregular, a história não deve ser exagerada. Vários Pantsir-S1 exportados pela Rússia foram destruídos em outros conflitos, e a Turquia também perdeu muitos de seus drones TB2 na Líbia. Depende do sistema, do operador e do contexto. Alguns têm um desempenho muito melhor do que outros.
    O mesmo pode ser dito dos sistemas de guerra eletrônica implantados neste citado conflito. As comparações de sistema em sistema não são especialmente reveladoras. Essas lições não devem ser generalizadas para países como a Rússia ou China, que contam com defesa aérea integrada, sistemas automatizados de comando e controle e uma rede de defesa aérea muito mais robusta. Dito isso, a saturação por meio de “drones munições” e sistemas operados remotamente é claramente um desafio para qualquer defesa aérea. O problema dificilmente se limita aos sistemas exportados soviéticos ou russos, como o ataque iraniano à infraestrutura saudita demonstrou em setembro de 2019, essas instalações foram defendidas pelos sistemas de defesa aérea US Patriot, French Crotale (Shashine) e Swiss Oerlikon, nenhum dos quais foi capaz de detectar ou engajar os drones iranianos de ataque.

    O conflito de Nagorno-Karabakh reiterou que os sistemas de defesa aérea individuais não se agregam em uma defesa aérea integrada, o que requer sistemas de curto e médio alcance operacional. Em países como a Rússia, a defesa aérea terrestre também está fortemente integrada à aviação tática. É um tanto óbvio que a defesa aérea deva ser apoiada por guerra eletrônica e sistemas especializados de aeronaves não-tripuladas anti drones (C-UAS), mas o argumento principal é sobre a estrutura da força. A proporção de apoio para unidades de manobra entre as forças armadas ocidentais é simplesmente inexistente em comparação com as de outras potências, como a da Rússia. Os veículos de combate, artilharia e infantaria da Armênia foram destruidos ao longo de várias semanas, enquanto sua capacidade limitada de defesa aérea sofreu um destino semelhante. Uma força terrestre menor, bem protegida de ataques aéreos, é certamente um investimento mais sábio do que uma grande frota de blindados e artilharia sem defesa aérea eficaz. Isso dificilmente é uma novidade. Essas tendências na guerra foram estabelecidas décadas atrás, mas agora é que países muito menores e bem menos armados podem se equiparar a países mais potentes fazendo uso da aviação não tripulada.

    A curva de custo é um fator significativo, uma vez que os drones são infinitamente mais baratos e fáceis de substituir do que seus alvos e podem ser negociados um por outro em uma guerra. Os sistemas de defesa aérea mais caros da Armênia, o antigo S-300PS, foram facilmente destruídos por munições israelenses, uma vez que o primeiro nunca foi projetado para enfrentar o último. Da mesma forma, tanques têm sido alvo de debates recentes, embora não exista outra plataforma que ofereça uma melhor combinação de manobra, poder de fogo e proteção.
    A principal lição para os blindados é que eles precisarão de sistemas de proteção contra drones da mesma maneira que agora deveriam estar equipados contra mísseis guiados antitanque. Todos os veículos precisarão de sistemas C-UAS embarcados.
    A sobrevivência, mais uma vez, terá que se igualar à letalidade. Embora as forças armadas ocidentais possam contar com o domínio aeroespacial para proteger as forças terrestres, cada vez mais parece que isso será, na melhor das hipóteses, uma solução parcial e, na pior, um otimismo mal direcionado.

    Outra abordagem é aumentar dramaticamente a quantidade de sistemas mais baratos e/ou descartáveis ​​para as forças armadas brasileiras, trocando recursos caros (tanques, aviões, navios) por números capazes de resistir a rápida destruição. No entanto, os sistemas tradicionais geram inércia na aquisição de defesa, e é mais provável que os militares escolham proteger melhor o que possuem do que tentar renovar suas forças. Uma adição útil às forças armadas seriam as capacidades disponíveis em grandes quantidades, baseadas em sistemas mais baratos ou descartáveis.

    Doutrinariamente, esta guerra oferece lições úteis, especialmente para o público brasileiro. Os militares modernos tendem a rezar no altar da guerra de manobra e os EUA em particular estão investidos nos efeitos cognitivos da manobra sobre as forças inimigas ou, em linguagem doutrinária, a capacidade de “impor múltiplos dilemas”. No entanto, a difusão de sensores baratos e de alta qualidade no campo de batalha nega muitos dos benefícios do terreno e da camuflagem e pode ser facilmente apoiada por um pacote de ataque de reconhecimento. Isso gera dúvidas sobre a capacidade de manobras para gerar dilemas cognitivos para grandes potências. Da mesma forma, as forças de dispersão podem ter efeitos insignificantes contra “drones munição” e, como o conflito de Nagorno-Karabakh ilustrou, o terreno acidentado oferece menos vantagens contra esses sistemas. A dispersão faz sentido taticamente, mas em termos de projeto operacional, a proliferação de meios baratos de vigilância sugere que as forças terão que aceitar níveis muito mais altos de desgaste e destruição especialmente contra militares com poder de fogo pesado como os da Rússia, França e China por exemplo.

    Muitos esperavam que o terreno acidentado fosse um fator significativo no conflito de Nagorno-Karabakh e, em uma análise inicial, que as forças armênias se saíssem muito melhor no conflito. Em alguns aspectos, isso era correto, visto que o Azerbaijão avançou no sul, onde era mais fácil para as unidades terrestres, mas não no norte. Ainda assim, no geral, esta tese se provou incorreta, e as expectativas de que a Armênia pudesse lutar até um impasse parecem agora incrivelmente róseas em retrospecto. O Azerbaijão conseguiu enfrentar as forças de defesa da Armênia com poder aéreo. Eles, como o Brasil, estavam mal preparados para a guerra, carecendo de boas diretrizes a seguir. Houve um atraso considerável entre a destruição das forças armênias e os avanços territoriais do Azerbaijão, mas o ímpeto mudou rapidamente duas semanas após o início do conflito. No início, o Azerbaijão parecia incapaz de traduzir o sucesso tático em ganhos significativos, o que explica em parte a surpresa com a rapidez com que eles foram capazes de colocar as forças armênias em uma posição precária e insustentável algumas semanas após o início da guerra.

    A Armênia poderia ter lutado de forma diferente e vencido este conflito?
    A resposta curta provavelmente é não, embora certamente pudesse ter se saído melhor. A Armênia estava em desvantagem desde o início devido à superioridade quantitativa e qualitativa do lado do Azerbaijão, juntamente com o considerável apoio turco a Baku. A liderança política da Armênia, como a Brasileira parecia estar delirando sobre o equilíbrio militar e o curso potencial de uma guerra, embora investisse insuficientemente nas capacidades certas, estrutura de força e defesas. Os problemas eram estruturais. Por exemplo, em vez de comprar ou produzir sistemas de defesa aérea ou de guerra eletrônica mais avançados, eles investiram em sistemas de defesa aérea OSA-AK antigos e usados ​​da Jordânia.
    O Azerbaijão usou drones e “drones munições” contra a Armênia na guerra de quatro dias de 2016, mas durante os quatro anos que separaram esses respectivos conflitos, os militares armênios não aprenderam a lição e não conseguiram se adaptar em nenhum dos aspectos.

    O conflito de Nagorno-Karabakh é uma lição sobre a necessidade de vincular o poder militar e a estratégia militar à política de estado. O conflito continua a ilustrar a lacuna entre as percepções dos líderes políticos e a realidade militar. Enquanto os planejadores muitas vezes acreditam que o que importa para a dissuasão é o equilíbrio militar, o potencial militar avaliado, etc., as decisões da Armênia e do Azerbaijão provaram mais uma vez que a percepção é o qualificador supremo. A vantagem qualitativa ou quantitativa muitas vezes não se traduz de forma significativa no cálculo político, e é o que os líderes decidem fazer com isso. Yerevan parecia agir como se fosse o poder mais forte na equação, talvez impulsionado pelo mito de vitórias anteriores em 1992. O chauvinismo e o otimismo de guerra continuam a ser problemas perniciosos na tomada de decisões, muitas vezes enganando o agressor, mas, neste caso, enganando o defensor. Isso é algo que os militares brasileiros devem levar a sério, dado o grau em que acreditam ser os melhores, especialmente na Amazônia.

    A traumática autópsia continuará a se desenrolar em Yerevan, à medida que abundam as recriminações em relação ao curso do conflito. As políticas e retórica da Armênia na corrida para o conflito pareciam fora de contato com a realidade de um país, que como o Brasil é superado em todos os aspectos. Sim, tinha um exército considerável, mas os investimentos da Armênia simplesmente não correspondiam à estratégia política. Eles não estavam preparados para esta guerra e marcharam em direção a um desastre militar.

    O uso de sistemas autônomos ou não tripulados é simplesmente a evolução mais recente no caráter moderno da guerra. Eles têm implicações para a capacidade de sobrevivência das forças terrestres, a eficácia da defesa aérea contemporânea e a necessidade de pensar de forma diferente sobre o terreno e as manobras. A difusão do poder do drone continua a ultrapassar defesas viáveis. Sem dúvida, algumas lições desse conflito serão exageradas, como sempre é o caso; no entanto, seria um erro para o Brasil ignorar o conflito de Nagorno-Karabakh.

    Conclusão

    O presidente Kennedy uma vez disse que:
    “Nenhum problema humano está além de seres humanos.”
    Os investimentos aqui citados podem parecer fora da realidade brasileira, mas sem eles, não haverá realidade brasileira.
    O gasto de 3% do PIB em defesa nacional deve ser mandatório por lei, mas inicialmente, deve-se gastar um percentual muito acima disso.
    Tenho ouvido de muitos que uma invasão ao Brasil seria como a guerra do Vietnam. Nada mais errado e enganoso. Do jeito que está hoje, um simples navio como o porta aviões nuclear que a França tem atualmente em construção especificamente para uso em tais situações, tomaria toda a região ao norte do rio Amazonas sem nenhuma possibilidade de reação ou reconquista do território por parte dos brasileiros, que já, em prática, abriram mão da soberania nacional sobre essas áreas ao aceitar passivamente a criação de nações independentes dentro do território nacional dissimuladas de “demarcações” de terras indígenas.
    O caminho para o Brasil se defender, e continuar existindo como nação é se tornar impossível de ser invadido. Pedaços do território nacional provavelmente serão perdidos para forças estrangeiras, mas a integridade da nação como um todo deve ser feita muito difícil senão impossível de ser conquistada.

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