Paulo Freire: A Revolução como Centro da História

Toda a obra de Paulo Freire gravita em torno de um objetivo central: a revolução socialista. Do seu trabalho inicial na alfabetização de adultos aos últimos escritos e palestras, tudo que Freire propôs tem como referência a revolução. Tão importante é a revolução no projeto pedagógico freiriano de “transformação social” que ele o divide em duas etapas históricas, a que correspondem duas estratégias complementares: ação cultural e revolução cultural. E o que as separa é justamente a ocorrência da revolução socialista.

Para Freire, colaborar com a educação como ela existe na sociedade “burguesa” é colaborar com a continuidade da sociedade que ele deseja ver destruída. A ação cultural, portanto, tem caráter subversivo, não contra um governo específico, mas contra todo o edifício civilizacional existente, julgado por Freire como opressor e incorrigível.

Para conduzir a sociedade até a revolução, Freire prescreve ferramentas e estratégias para um lento e persistente trabalho de “conscientização” ideológica das massas, por meio da educação e de outros mecanismos culturais. Nesse projeto, que visa abarcar toda a cultura, Freire dedicou-se à educação e desenvolveu um sistema pedagógico que buscar incutir nos alunos o ímpeto de lutar ativamente pela revolução.

Doutrinação ideológica, reprodução e multiplicação da militância socialista, atenuação da resistência ao projeto revolucionário. Eis os principais objetivos do sistema pedagógico freiriano.

Uma vez tomado o poder, a ação cultural imediatamente se transforma em revolução cultural, cujo objetivo prioritário deixa de ser a subversão da ordem vigente e torna-se a defesa do novo Estado socialista. “Na nova sociedade”, diz Freire, “o processo revolucionário se transforma em revolução cultural”. E continua:

Em suma, o que Freire propõe é um processo de preparação cultural que conduzirá a sociedade a uma revolução socialista, em que se instalará uma ditadura do proletariado. Isso não está em desacordo com o que Freire declara a respeito de liberdade e democracia, que, refletindo o pensamento leninista, têm significados diferentes dos utilizados no discurso político contemporâneo. Para Freire, a verdadeira liberdade é impossível antes da revolução, pois a sociedade capitalista não apenas oprime, mas é deliberadamente estruturada para manter as massas oprimidas. A democracia burguesa é, para Freire assim como para Lenin, uma farsa, sendo a verdadeira democracia aquela que emana da Revolução.


  1. Medo e Ousadia, p. 67. ↩︎
  2. Ibid. p. 106. ↩︎
  3. The Politics of Education, pp. 89-90. Tradução minha. ↩︎
  4. Ibid. p. 87. ↩︎
  5. A Importância do Ato de Ler, p. 99. ↩︎

Para saber mais, veja minha série sobre Paulo Freire no YouTube:


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Comments

Uma resposta para “Paulo Freire: A Revolução como Centro da História”.

  1. Olivia Nogueira

    Por isso que Freire é tão importante. Hoje em dia ninguém nas faculdades cita como era socialista. Revolucionário na educação e na política.

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