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A Disputa Presidencial nos Estados Unidos e suas Lições para o Brasil

Nos Estados Unidos, passada uma semana das eleições, o resultado ainda não está definido. Embora a grande mídia tenha aclamado Joe Biden como vencedor, vários estados terão suas votações disputadas na justiça ou submetidas a recontagem, o que provavelmente jogará a divulgação do resultado final para dezembro. Não há problema com esse prazo, que já é previsto no calendário eleitoral americano, justamente para permitir a apuração completa e eventuais recontagens ou disputas sobre o voto popular (voters). A eleição de fato para presidente ocorrerá apenas em 14 de dezembro, quando os eleitores estaduais (electors), com base nos resultados da votação popular em seus estados, escolherão o presidente.

O elefante e o burro, símbolos dos partidos Republicano e Democrata, respectivamente.

Independentemente de quem será declarado vencedor, o mais preocupante no cenário atual é a enorme discrepância de perspectivas entre a narrativa da grande imprensa, que vem apresentando o tema como decidido, e a campanha do presidente Trump, que contesta os resultados em vários estados, alegando suspeita de fraude. O mais prudente seria que a imprensa apresentasse Joe Biden como forte favorito, mesmo que considerassem que Donald Trump tem poucas chances de vencer, para evitar inflamar ainda mais a militância de esquerda, no caso de uma virada.

Outra razão para prudência no trato da apuração, e que interessa não apenas aos cidadãos americanos, mas ao Brasil e ao Ocidente, é a preservação da credibilidade das instituições. A democracia liberal americana é um experimento único na história da humanidade e interessa a todos os que amam a liberdade que prospere e continue a servir de exemplo para o mundo. Mesmo que não tenha havido fraudes que afetem o resultado da eleição, o mero fato de que tenham sido levantadas suspeitas demanda uma investigação, para proteger a confiança na integridade do sistema eleitoral, algo que deve ser tratado como um objetivo prioritário e permanente.

Uma vez decidido resultado da eleição presidencial, outros problemas precisarão ser enfrentados nos Estados Unidos, e que também se manifestam no Brasil, são o radicalismo e a intolerância estimulados pelo establishment esquerdista. Naquele país, durante mais de quatro anos, desde a campanha eleitoral de 2016, políticos, jornalistas, artistas e outros influenciadores de esquerda fomentaram o ódio a Donald Trump, comparando-o a Hitler e acusando seus apoiadores, velada ou abertamente, de fascistas, racistas, e coisas piores. Fenômeno semelhante ocorre no Brasil com relação ao presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Nesse contexto, será muito útil aos brasileiros acompanhar a experiência americana, caso haja algum esforço sincero de reconciliação.

A deputada democrata Alexandria-Ocasio-Cortez pede uma lista de "cúmplices" do presidente Trump e é atendida.
A deputada democrata AOC pede uma lista de “cúmplices” do presidente Trump e é atendida.

Os primeiros sinais, no entanto, não são alvissareiros. Diversos políticos e influenciadores da esquerda, talvez inebriados pela expectativa de um governo progressista, clamam por vingança contra quem apoiou Donald Trump em 2016 e 2020. Já estão mesmo sendo compiladas listas de proscritos para retaliação por ter apoiado o atual presidente. Por exemplo, a deputada socialista do partido democrata Alexandria Ocasio-Cortez, uma das mais populares nos Estados Unidos, foi ao Twitter pedir a seus mais de dez milhões de seguidores uma lista de “cúmplices” no sucesso de Donald Trump, no que foi prontamente respondida: não apenas já estão trabalhando nisso, como há um website para coletar denúncias. A lista chegou a ser divulgada na internet, mas como foi recebida com ultraje — como poderia ser diferente? —, agora está sendo alimentada com discrição. O precedente é perigoso e deve ser rechaçado inequivocamente.

Captura de tela do website do Trump Accountability Project, que compila lista de apoiadores do presidente Trump para retaliação futura.
Captura de tela do website do Trump Accountability Project, que compila lista de apoiadores do presidente Trump para retaliação futura.

No Brasil, onde o mesmo comportamento vem sendo estimulado por lideranças e influenciadores de esquerda, precisamos observar com atenção os desdobramentos das eleições americanas, em particular no que concerne ao diálogo entre o grupos políticos antagônicos. Até o momento, estivemos em grande medida livres de manifestações violentas e depredação como a promovida por militantes do Black Lives Matter e antifas, mas a acusação continuada de que quem não apoia a esquerda é fascista conduzirá o país necessariamente a maior divisão e intolerância. Esse é um problema muito sério que vem sendo negligenciado, mas os custos dessa negligência não tardarão a chegar.

*As opiniões expressas neste artigo refletem avaliações pessoais do autor e não correspondem necessariamente à posição do governo brasileiro.

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