Quando pensamos nos incontáveis objetos (astros, planetas) que existem no Universo e nas distâncias que nos separam deles, sabendo que a luz que os revela levou milhares e milhões de anos até trazer à Terra notícia de sua existência, podemos imaginá-los como retrato de um passado imensamente remoto, apartado de nós pela grandeza descomunal do tempo cósmico.
Idealizamos esses astros nesse passado imponderável, mas não essencialmente diferentes da imagem que deles nos chega hoje. Compreendemos, intelectualmente, que muitos não estão mais lá, não existem mais, mas talvez não concluamos imediatamente que outros podem ter surgido naquela posição relativa, ou que os que ainda existem podem ter-se transformado completamente.

Imagine que alguém em um planeta cem mil anos-luz distante observa a Terra agora com um telescópio infinitamente potente. O que ele verá? Geleiras de uma era glacial? Animais hoje extintos? Certamente não verá civilizações, cidades, estradas de ferro. Imagine agora que o extraterrestre vive a 100 milhões de anos-luz daqui. Ancestrais nos quais não nos reconheceríamos dividem espaço com dinossauros e outras espécies há muito desaparecidas. Muitos gêneros atuais nem mesmo existem, entre eles o humano. Recue 4 bilhões de anos-luz e não encontrará indícios de vida na Terra. E se estiver a mais de 5 bilhões de anos-luz de nós, sua visão atravessará o espaço vazio em que no futuro surgirão nosso sistema solar, nosso planeta e toda nossa história natural e humana.
Da mesma forma, se um terráqueo puser seus olhos em um telescópio de alcance infinito, verá estrelas que já morreram, galáxias que não existem mais. Mas verá também imensos vazios trazidos do passado, onde agora astros novos e magníficos gravitam, uns ao redor dos outros, sem que jamais possamos vê-los; onde em novos planetas a vida se multiplica e diferencia em infinitas formas que não precisarão se parecer em nada com a história biológica da Terra.
Isso é, claro, um exercício de imaginação. A distâncias muito grandes, cósmicas, a luz não mais carrega informação sobre a miudeza da escala humana, seus fótons viajando num feixe de raios progressivamente dispersos por suas próprias trajetórias iniciais e pelas infinitas curvaturas do espaço. A experiência humana dissipa-se numa imagem que perde resolução em seu percurso através do Cosmos, exceto, talvez, se amplificada por outro telescópio imaginário, em algum lugar não vazio do caminho.