Parte da inconformação com o governo Bolsonaro, que se manifesta desde antes de sua eleição —lembram-se da campanha #elenao?— deve-se a um senso de frustração compartilhado por uma quantidade significativa de indivíduos que estão convencidos de que sua visão de mundo é superior a todas as outras e de que ela havia sido definitivamente implantada no país. A derrota dessa visão nas urnas deixou-os com a sensação de que algo lhes foi roubado, pouco importando que a maioria tenha preferido seguir outro caminho.
Esse comportamento intransigente e infantilizado é fruto de longo processo de preparação cultural, que foi executado de forma lenta e quase imperceptível, por não se basear em grandes ações visíveis, mas em infinitas pequenas ações de militantes e simpatizantes, normalmente agindo sem visão do processo inteiro.

O condicionamento psicológico abrangente que resultou desse processo derivou não apenas do proselitismo progressista nas escolas e das limitações impostas ao discurso público pela “correção política” e outros meios, mas também da criação de todo um edifício cultural que permeia a imaginação nacional, exercendo influência até sobre indivíduos de pensamento conservador. Muitos absorveram tão profundamente o conteúdo dessa visão de mundo que se tornaram convencidos de que os limites da democracia se confundem com o circuito fechado de sua própria ideologia.
A intransigência auto-congratulatória com que esses indivíduos alegam defender a democracia demonstra o sucesso da estratégia de aculturação que os preparou psicologicamente para entender como natural a hegemonia da esquerda. A própria permanência da esquerda no poder por largo período reforçou a crença em sua continuidade como sendo o próprio desenvolvimento civilizacional. Assim, a predominância política, mesmo que provisória, de um grupo com visão conservadora da sociedade é interpretada por esses indivíduos não como alternância democrática de poder, mas como rompimento da ordem natural e necessária da história.
Em suma, a ação cultural do campo progressista nas últimas décadas instilou um senso de entitlement nos que estão a seu lado enquanto debilitou a determinação de seus opositores. Esse fenômeno alcança principalmente, embora não exclusivamente, a massa ativa ou passivamente engajada — militantes e fellow travelers —, mas muitos dos que não simpatizam com o ideário progressista também estão submetidos a essa concepção de sua inevitabilidade.
Além disso, as lideranças progressistas sempre tiveram Bolsonaro como inaceitável por estimar que com ele não seria possível encontrar acomodação, o que se verificou no decorrer dos eventos.
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Very good……
Destrinchou a lavagem cerebral severa ocorrida no nossa querida “terra brasilis”
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