Um artista famoso mudava a disposição dos móveis de casa com frequência, sempre insatisfeito. Trocava utensílios de lugar, escondia e reencontrava coisas velhas. Jogava muita bugiganga fora. Trazia sempre novidades da rua. Logo após uma reorganização bem remexida, morreu.
A casa virou museu e a mobília ficou “preservada exatamente como ele a deixou”, anuncia o folheto oficial. O guia turístico se emociona cada vez que aponta um objeto qualquer. “A alma do artista está também ali.”
A ironia é que o artista não havia gostado da última mudança e pensava em jogar tudo fora, recomeçar do zero. “Não tem nada a ver comigo”, confidenciou à faxineira, pouco antes de morrer.
