Estive recentemente em Lisboa, cidade que é sempre um prazer revisitar. E cada vez que a visito cresce a distância entre a paz e a tranquilidade que lá me envolvem e o horror que se tornou meu Rio de Janeiro natal e o Brasil como um todo. Antes, levava-me ao Brasil a saudade; agora, hesito em voltar, com medo. Em Lisboa, posso ir a qualquer lugar, a qualquer hora. No Rio, não. De fato, nunca pude, mas a sensação que tenho cada vez que retorno à cidade onde cresci é de menos liberdade do que tinha antes.
Já morei em várias cidades muito seguras. Na verdade, quase todas as cidades em que vivi ou que visitei — e foram muitas — são bastante seguras. Mais uma razão para sentir horror ao que se passa no Brasil. Em todos esses lugares, sempre andei sem medo, e sempre esperei em casa sem medo quando minha mulher andava sozinha na rua. Isso não quer dizer que não se deva tomar precauções. Alguém que cresceu no Rio sempre toma precauções. Mas é possível baixar a guarda.
Quando estiver em Lisboa, preste atenção às mulheres andando sozinhas, especialmente em ruas pouco movimentadas. Elas vêem e vão imperturbadas. Sequer levantam os olhos. Não se desviam um passo de seu caminho. Observar o comportamento das mulheres nas ruas é uma boa forma de inferir o nível de segurança de uma cidade ou, ao menos, a sensação de segurança. No Rio de Janeiro, até homens adultos entram em modo de alerta ao cruzar com outros homens em áreas de pouco movimento. Algum nível de paranóia é incontornável. A cidade exige isso.
Quem vive no Rio, no Brasil, sofre com a violência antes mesmo de sofrer violência.
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