Em mais um capítulo da saga dos Correios na destruição de valor, a estatal anunciou que busca empréstimo de R$ 20 bilhões para sua reestruturação. Não é pouco dinheiro, mas o ralo é fundo. Há uma dificuldade, no entanto. Segundo o Estadão, “Não há ainda um plano estruturado de recuperação e nenhum dos ministérios envolvidos – Comunicações, Gestão e Fazenda – estão desenvolvendo um projeto semelhante”. Quem seria louco de entregar dinheiro a qualquer empresa nessas condições?
A resposta, acreditem, é: todo mundo! Não somente o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal estão se preparando para embarcar, como há grande interesse de bancos privados em financiar um plano de reestruturação que sequer existe. A explicação para a solicitude bancária é simples — o Tesouro será avalista. Os bancos colocarão o dinheiro na mesa, receberão os juros, e nós pagaremos a conta, se os Correios não conseguirem devolver os R$ 20 bilhões mais juros. Não é preciso lembrar que, para devolver esses bilhões, a empresa primeiro precisa deixar de perder vários bilhões por ano em suas operações. É óbvio que, sem o pagador de impostos na fila para segurar a bucha, ninguém colocaria dinheiro nisso.
Como devemos esperar, os Correios dificilmente conseguirão levantar tanto dinheiro em qualquer prazo. Se eu fosse dado a apostas, apostaria em que precisarão de novas injeções em alguns poucos anos. Os banqueiros devem ter opinião semelhante e, por isso, nada será resolvido sem as garantias do Tesouro.
Para mostrar responsabilidade, o Governo joga ao vento explicações que não têm como ser levadas a sério. O mesmo Estadão reporta, por exemplo, que “No Ministério da Fazenda, a visão de técnicos é a de que o aval para o empréstimo precisa ser entendido como um ‘risco de cauda’, ou seja, que só seja acionado em casos extremos (como recessão abrupta, pandemias, crises financeiras), eventos totalmente inesperados e alheios à própria empresa, mas que afetem a economia como um todo”. Risco de cauda? Nos Correios? Alguém leva essa conversa a sério? É um teatro das tesouras com aval do Tesouro.
Os Correios precisam ser privatizados — se é que alguém aceitaria assumir esse pepino. Não há razão comercial, econômica ou “estratégica” para mantê-los sob controle governamental. Tampouco há interesse social. Uma empresa não estratégica, cujos serviços podem ser prestados com menor custo e maior eficiência pela iniciativa privada, não serve à sociedade, especialmente se é capaz de destruir valor com tamanho ímpeto.
A única preocupação social legítima em sua privatização é como acomodar os milhares de funcionários que perderiam seus empregos. Isso, no entanto, seria muito mais fácil do que tapar o ralo e impedi-lo de se reabrir em alguns anos, e bem mais barato.
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