O assassinato de Iryna Zarutska nos lembra que a violência urbana não é inevitável, mas resultado de escolhas sociais e institucionais que normalizam a impunidade. Criminosos com múltiplas passagens pela polícia continuam sendo liberados tanto nos EUA quanto no Brasil, perpetuando um ciclo de violência que poderia ser interrompido com reformas no sistema judiciário. Se outros países conseguem manter baixos índices de criminalidade mesmo com desigualdade social, está na hora de escolhermos não tolerar mais a violência e repensarmos nossas instituições.
Transcrição refinada por IA:
Oi pessoal, bem-vindos. Todo mundo deve ter visto a notícia do assassinato de uma refugiada ucraniana num trem nos Estados Unidos, em Charlotte, Iryna Zarutska, o nome dela. O sujeito maluco atrás dela no trem levantou, deu três navalhadas no pescoço dela e foi embora. A menina morreu ali poucos segundos depois. E o mais inaceitável de tudo isso não é a existência de um maluco que faça uma coisa dessa, mas que ele tenha sido preso 14 vezes antes. E isso nos faz pensar no que acontece no Brasil, que é muito semelhante. O que eu acho mais revoltante de todo esse caso é justamente o fato de o cara ter 14 passagens pela polícia. Como é possível uma sociedade, americana ou brasileira, tolerar esse tipo de coisa? A violência urbana, o crime violento, a convivência com esse tipo de crime não é uma coisa acidental, ela é uma escolha social, é uma escolha da sociedade. O nível de tolerância a esse tipo de crime é uma escolha da sociedade. E essa leniência com bandidos violentos, com criminosos violentos, é ideia de intelectuais progressistas que acham que, de alguma forma, ou o cara é vítima da sociedade, ou o sistema prisional não é suficientemente correcional, ou o sujeito, a prisão não resolve o problema, portanto não deve haver prisão, as pessoas não devem ser presas. Existe até um nome para isso: abolicionismo penal. O cara acha que prisão não resolve, portanto não tem que prender ninguém, a não ser casos excepcionalíssimos.
Então eu vou mencionar alguns casos recentes que a gente teve no Brasil de criminosos e de juízes que justificaram a ação de liberar certos criminosos para a gente ver se isso faz algum sentido:
- Primeiro, poucos dias atrás, semana passada, um sujeito foi preso por deixar uma parte do corpo da namorada dele dentro de uma mala numa estação rodoviária. O sujeito esquartejou a namorada, espalhou as partes do corpo dela por sei lá que lugares, foi preso e aí você pensa: bem, o maluco surtou, teve um surto psicótico ou o que quer que seja. Mas quando você vai ver o caso, o sujeito já tinha sido preso antes por matar e concretar a mãe. Ele matou a mãe, ele colocou-a num bloco de concreto para esconder o corpo. Tinha sido condenado a 26 ou 27 anos e foi solto por uma juíza que acha que prisão não resolve. Assim que ele completou os prazos mínimos, ela liberou o cara porque não resolve. Então tem que ser outra coisa, eu não sei que coisa, mas o cara está na rua, armou a namorada, matou a mulher, esquartejou e guardou o pedaço do corpo na mala lá numa rodoviária. Vocês podem procurar as notícias aí, está tudo na internet.
- Outro caso: um sujeito tinha 80 e tantas passagens pela polícia, foi preso bêbado, andando na rua, armado. Por alguma razão, a polícia teve uma dica de que esse cara ia fazer alguma coisa e o cara confessou para os policiais que estava na rua procurando alguém para acertar as contas. Ele ia matar um sujeito, depois de passar 80 e tantas passagens pela polícia, ele estava solto na rua, armado, para matar alguém. Não disse quem era o cara que ele queria matar. Então o que acontece? Daqui a pouco está solto de novo e tem alguém marcado para morrer. O cara está marcado para morrer, porque esse sujeito vai ser solto de novo. Se ele foi solto 80 vezes, ele vai ser solto de novo. Não há por que acreditar que isso não vai acontecer.
E aí isso me traz a um outro caso, de um outro juiz que também soltou um sujeito 80 e tantas vezes, 80 e tantas passagens pela polícia. E aí o juiz vem dizer que não tem como saber que o cara vai fazer de novo, porque a justiça não é um exercício de futurologia. Agora eu vou cortar aqui e vou ler alguns trechos de entrevista com essa juíza, de reportagem em que entrevistaram também esse juiz, para ficar bem literal o que está na notícia. E depois eu boto uns links aí na descrição para quem quiser ler a coisa completa. Uma reportagem sobre a juíza em que eles entrevistaram a juíza. Não vou dizer o nome porque, hoje em dia, você dizer até fatos públicos pode causar problema com a justiça. Elas dizem o seguinte: há anos, decisões da juíza X provocam polêmica, já que a cadeia não oferece a mínima dignidade, sua política é soltar o preso assim que ele conquista a progressão de regime para o semiaberto, incondicionalmente. E ela é constantemente atacada por, entre aspas, proteger bandido. Aí aqui citando a juíza: Fui executada uma vez quando soltei um cara preso por posse de drogas. Em seguida, ele se envolveu num latrocínio, quer dizer, ele roubou alguém e matou o cara. Não tenho bola de cristal. Nada indicava que ele faria isso. Mas ainda prefiro correr esse risco a prender mal. Lembrando que prender mal tem ecos em outras autoridades. E ela prefere correr o risco de que ele mate alguém. É o que está dito aqui.
O outro caso é do juiz que soltou um sujeito com 80 e tantas passagens pela polícia e disse que não tinha como adivinhar que ele ia fazer alguma coisa errada de novo. A matéria diz o seguinte: O juiz que mandou soltar Patrick pela última vez, que completou nesta semana 87 anotações criminais, alegou no texto de sua decisão que os crimes em questão foram cometidos sem violência ou grave ameaça e que não era possível presumir que ele voltaria a delinquir. Aí vem, entre aspas, a decisão do juiz:
“O fato imputado é daqueles cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa. Não se pode presumir que os acusados retornarão a delinquir, posto que no Estado Democrático de Direito não há espaço para o exercício de futurologia”, diz a decisão do juiz, etc.
Bem, o sujeito tem 87 passagens pela polícia, anotações criminais, e é impossível prever, assumir, é um exercício de futurologia assumir que esse cara vai cometer novos crimes. Eu acho que é impossível prever ou acreditar que ele não vai cometer novos crimes. Futurologia é achar que ele não vai fazer nada. O óbvio é que ele vai fazer de novo. E aí a reportagem aqui dá um resumo da história do sujeito. Aí vão dizer: mas o cara era pobrezinho e tal. Tudo bem, isso é outra conversa. Agora, não pode ficar soltando os caras na rua.
Acompanhe a trajetória de apreensões e prisões de Patrick. Patrick é o nome do sujeito, não sei se é o nome real ou se é um pseudônimo aqui. Aos 10 anos, foi apreendido por furtar bicicletas na lagoa Rodrigo de Freitas, em 2014. No mesmo ano, foi apreendido por furtar um cordão de ouro. E vai aumentando, né? Aos 13 anos, por porte de drogas. Tudo bem. Aos 18 anos, preso por furtar produtos de uma farmácia, foi pela primeira vez para o presídio. Aí depois, em 2024, dias após ser solto de algum outro caso, assaltou uma casa em Ipanema e ameaçou um homem com um espeto de churrasco. Etc, etc, etc.
O que acontece numa situação como essa não é só que o cara está sendo solto, ele não está pagando pelos crimes ou pelos roubos. E esses casos aqui nem parecem ser realmente tão graves. Talvez ameaçar o cara com um espeto de churrasco, não sei. Mas é que o cara aprende e os amigos dele e as outras pessoas na sociedade aprendem que é possível ter uma vida de crime. Que é possível você ser preso 80 vezes e nada vai acontecer com você. Você vai lá, você vai para a delegacia, te soltam no dia seguinte. Ou então você vai para a prisão, o juiz vai lá e diz: não, aqui não dá, é insalubre, você tem que ir para a rua. Não é uma ameaça para a sociedade.
Então, esse tipo de leniência, esse tipo de atitude perante criminosos reincidentes, que fazem a vida inteira do crime, estimula as pessoas a optar por uma vida de crime. Porque o cara vê que não tem consequência. O cara só tem a ganhar. Ele vai roubando, roubando, roubando. Vai, aponta a arma para a cabeça dos outros. Um dia ele matou, mas ele não costumava matar antes, porque foi a primeira vez. O cara sempre usava a arma só para ameaçar. Por exemplo, uma hipótese. Aí o cara, um dia, vai matar, ele está doidão, ele está com a arma na cabeça do outro. Ele achou que o cara ia reagir, ou não achou, estava só doidão, não importa. Um dia vai matar. Mesmo que não termine em homicídio, isso não pode existir. Esse exemplo dessa possibilidade de alguém seguir uma vida de crime, de o cara começar e passar a vida inteira cometendo crimes e sendo solto, cometendo crimes e sendo solto, literalmente dezenas de passagens pela polícia sem qualquer consequência. Isso, como eu disse no início, é uma escolha. Isso não é uma necessidade, não é uma situação determinística em que a sociedade tem de ser dessa forma, em que não há o que fazer, em que esse é o destino humano, é o destino de nossa sociedade, o destino do Brasil, dos Estados Unidos ou de quem quer que seja, de que país seja. Isso é uma escolha.
Há países no mundo, há sociedades em que não existe esse tipo de violência, mesmo que haja desigualdade, mesmo que haja pobreza, mesmo que haja uma infinidade de problemas. Morei em vários países onde há muito mais desigualdade que no Brasil, onde há muito mais pobreza que no Brasil e não existe isso, não existe isso. Segurança total, você pode andar na rua, fazer o que você quiser e aonde quiser. Então, isso é uma escolha e a gente tem que escolher acabar com isso.
A gente tem que escolher não tolerar mais violência. A gente tem que escolher não dar aos jovens a alternativa, a opção, a hipótese, a ideia de ter uma vida de crime, de passar a vida inteira no crime. Para isso, a gente tem que mudar muita coisa:
- Tem que mudar a legislação.
- Tem que mudar a forma de atuação do sistema judiciário e prisional.
- Tem que mudar, acima de tudo, o pensamento das pessoas.
Tem que mudar a ideia que a gente faz da sociedade que a gente quer ter. Porque, no fim das contas, acima de tudo isso, está a concepção que a sociedade tem de si, que as pessoas têm de sua sociedade. Se a gente continuar achando que isso é normal, que é só um infortúnio de ser brasileiros ou de ser latino-americano, que não há o que fazer porque a violência é parte da vida, a gente vai continuar vivendo sob ameaça de violência. O que a gente precisa, acima de tudo, é nos convencer uns aos outros de que isso é uma opção. A gente optou por aceitar isso e a gente pode optar por não aceitar mais. Essa é a minha mensagem de hoje. Um abraço, fiquem bem.
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