O fenômeno dos bebês reborn no Brasil ganhou força nos últimos meses, gerando diversas situações controversas e o surgimento de uma indústria de empresas a influencers tentando faturar em cima de pessoas psicologicamente vulneráveis. Assista ao vídeo com meus comentários no YouTube:
Transcrição IA:
Oi pessoal, bem-vindos. Hoje minha mensagem é sobre essa onda de bebê reborn. Todo mundo está vendo isso, está na imprensa todo dia, em todos os jornais. Parece que é uma coisa que já havia no Brasil há muitos anos, mas que ganhou muito ímpeto nos últimos seis meses, talvez. E agora está em todo lugar, né?
Primeiro, um disclaimer: eu não adotei ou pretendo adotar bebê reborn. Eu quero só analisar o que me parece estar sendo um cenário de, primeiro, de mania, de frenesi injustificado e algumas aparentes explorações ou abusos de pessoas vulneráveis dentro dessa moda ou dessa tendência.
Então, primeiro vou ler algumas manchetes aqui, só para quem não está prestando atenção ter uma ideia do tipo de coisas que estão acontecendo. Então, por exemplo:
- Loja de bebê reborn em Curitiba é invadida e suspeitos levam 55 mil reais em bonecas.
- Deputados protocolam projeto de lei para proibir atendimento de bebê reborn no SUS. Projeto quer multar em 30 mil quem furar fila com bebê reborn.
Quer dizer, aí tem os malandros que estão usando bebê reborn para furar fila, assento especial, outras coisas. Não necessariamente o cara precisa ter um bebê altamente sofisticado, caríssimo; o cara chega lá com um bebê e diz: “Olha, eu estou com um bebê de cola aqui, eu quero furar a fila”. Então, estão pensando em legislação, em diversos níveis, para impedir que as pessoas furem fila com bebê de plástico, com boneca de cola. Tudo bem.
Aí tem uma história até mais interessante. Eu tinha visto essa história no Instagram: uma advogada que disse que foi procurada por um casal que estava se divorciando e que estava disputando a guarda do bebê reborn. E aí era supostamente por apego emocional ao bebê reborn. Eu pensei: “Pô, isso é tão maluquice que eu nem acreditei inicialmente que a advogada estivesse falando a verdade”. Porque a advogada também é influencer, ela podia estar querendo fazer uns clickbaits ali, né? E depois encontrei na imprensa, até por acaso, que na verdade esse casal de fato procurou a advogada e queria discutir a guarda do bebê na justiça. Mas a razão não era um apego emocional, era porque o bebê reborn desse casal tinha uma página de Instagram monetizada. Quer dizer, os caras ganhavam dinheiro expondo a vida do bebê reborn para pessoas que, por qualquer razão, são fãs ou se interessam por isso.
E aí eu comecei a olhar com mais profundidade e eu vi que começa a existir uma indústria para explorar isso. Tem clínicas que fazem o parto simulado do bebê reborn. Você não só compra o seu bebê reborn, mas você vai nessa clínica e o bebê está dentro de uma bolsa, dentro de uma boneca, simulando uma mulher, né? E você tem todo o procedimento do parto do bebê e o bebê é entregue para a nova mãe, né?
E aí essas mulheres que adotam esses bebês são estimuladas a levar o bebê para comprar roupas e começam a ter um monte de despesas e envolvimento emocional, como se o bebê fosse uma criança de verdade. Eu vi até um caso de uma mãe de bebê reborn que queria vacinar o bebê. Aí você pensa: a coisa está começando a ficar meio maluquice demais, né? Você levar seu boneco no SUS, quer furar a fila, para vacinar quando tem outras pessoas que estão ali e precisam ser vacinadas de verdade, né?
Por isso, legislação para vetar isso. Acho que nem precisava de legislação, basta dizer: “Cara, aqui boneco não é vacinado”, pronto. Mas tudo bem. O que essa coisa toda me mostra é que não se trata apenas de um problema de algumas mulheres ou casais ou quem quer que seja quererem adotar esses bebês ou sequer do aspecto psicológico ou médico de talvez isso ter alguma função para alguns casos de, sei lá, depressão clínica e o psiquiatra diz: “Olha, vamos experimentar dar a essa pessoa aqui um bebê para ver se traz algum conforto”, uma coisa assim. Isso eu consigo entender. O que eu estou vendo como problema é que isso está se tornando uma indústria de abuso de vulneráveis. Porque você começa a ter toda essa parafernália de partos simulados, de estímulo que a pessoa vai na loja comprar roupinhas do bebê. Daqui a pouco tem loja especializada em tratar bebê reborn. Eu acho que tem até já esses lugares onde se faz partos e outras coisas. Isso eles se vendem como se fossem clínicas de tratamento de bebê reborn, ou o que quer que seja. O detalhe específico não importa. O que importa é que você começa a ter um monte de oportunistas que começam a tirar dinheiro dessas pessoas. E não só isso, estimular as pessoas a se aprofundar cada vez mais nessa maluquice. Deixa de ser uma coisa que talvez fosse um tratamento experimental que algum psiquiatra está fazendo com um grupo de mulheres e passa a ser uma exploração de pessoas que estão psicologicamente vulneráveis. E você começa a tentar estimulá-las a se aprofundar cada vez mais nesse negócio. Isso, a meu ver, é abuso de vulnerável. E tende a haver um policiamento, um cerceamento desse tipo de atividade. Porque você não pode se aproveitar de uma situação em que a pessoa tem uma dificuldade psicológica, está passando por algum problema, ou pode ser que tenha um problema permanente, psiquiátrico, não sei. E não pode ser permitido que se erga toda uma indústria para explorar esse pessoal. Isso é inaceitável.
Eu vi uma luz de bom senso aqui, num padre, que disse que lá na paróquia dele — padre famoso, todo mundo é influencer, padre também, com 3 milhões de seguidores, 3,7 milhões de seguidores no Instagram — ele disse que não está realizando batizados de bonecas reborn, não atende mães de boneca reborn, não celebra missa de primeira comunhão para boneca reborn. “E essas situações devem ser encaminhadas ao psicólogo, psiquiatra ou ao fabricante da boneca”, ironizou, disse aqui, finalizou. Tipo, eu acho que não precisa nem explicar, o padre tem toda a razão, não vai fazer batizado de boneca na igreja dele, não é? Agora, isso se destaca como uma luz, um flash, um raio de bom senso no meio de uma confusão permanente, de uma perda de bom senso, de apego à realidade, que está sendo usada, como eu disse, para explorar pessoas vulneráveis.
Então, eu acho que a gente tem que começar a dar um limite a esse negócio. Porque senão, qual é o limite de exploração que você pode dizer? Isso é tolerável? Tudo isso é tolerável? As pessoas podem simplesmente tentar ganhar dinheiro em cima do cara que está com algum problema? Eu acho isso absurdo. Bem, essa era a minha mensagem de hoje, acho que acabou durando mais do que eu esperava falar, mas fiquem bem, um abraço e até a próxima.
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