A discussão no Brasil sobre a operação das redes sociais, suas regras e o tipo de conteúdo permitido também está presente na Europa. Lá, inclusive, já houve várias ameaças de bloquear o X devido a desentendimentos com Elon Musk. Geralmente, o debate gira em torno da liberdade de expressão — um tema que considero prioritário em nossa sociedade, no Ocidente, no Brasil, na Europa e em todos os países democráticos.

Além da liberdade de expressão como valor, direito individual e parte essencial das liberdades democráticas, existe também a questão econômica. Por que isso importa? Porque será um dos elementos cruciais de pressão contra países que busquem adotar políticas de censura ou restrição à liberdade de expressão, especialmente aqueles que tentam bloquear plataformas. Afinal, essas plataformas dependem de uma audiência ampla — sem usuários, não têm o valor de mercado bilionário que vemos hoje.

Quando o Brasil ou a União Europeia ameaçam bloquear uma plataforma, estão efetivamente ameaçando cortar o acesso a mercados imensos — 200 milhões de pessoas no Brasil, 300 milhões na Europa. Tais restrições representariam perdas bilionárias e poderiam até inviabilizar algumas plataformas se vários países adotassem medidas semelhantes.

A China exemplifica um mercado altamente restrito para essas plataformas, não apenas pelo bloqueio a serviços estrangeiros, mas por ter desenvolvido suas próprias alternativas. A Rússia segue caminho similar, com plataformas como o Yandex para serviços online e o VKontakte — uma versão mais limitada do Facebook, que conheci quando morei na Ucrânia.

O acesso aos mercados ocidentais é, portanto, vital para a rentabilidade e desenvolvimento dessas plataformas. Isso cria um enorme incentivo econômico para que os Estados Unidos — onde a maioria dessas empresas está sediada e é desenvolvida — defenda e promova a mais ampla liberdade de expressão possível no Ocidente.

Essa dinâmica tem duas faces: por um lado, pode pressionar países a adotarem políticas mais liberais do que desejariam; por outro, garante mais liberdade do que teríamos sem essa pressão econômica. É um aspecto crucial do debate que permanece negligenciado — poucos discutem essa dimensão econômica da pressão pela liberdade.

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