* Este artigo é adaptado de um thread que publiquei no Twitter por ocasião do centenário do nascimento de Paulo Freire.

Paulo Freire foi acima de tudo um aliciador, e como tal é admirado por boa parte de suas vítimas. Sua pedagogia é um conjunto de conceitos e práticas que visam preparar as massas para o processo revolucionário.
No centro de sua obra de está o conceito de “conscientização”, que não é senão a doutrinação dos alunos (embora embelezada com discurso “amoroso”) para o pensamento “crítico”, o qual não é crítico com imparcialidade, naturalmente. O próprio Paulo Freire afirmava que imparcialidade — ou, na expressão usada por ele, “neutralidade” — não é possível e tampouco desejável. A educação, dizia, não pode ser neutra.
Freire entendia que o objetivo da “conscientização” era indissociável da educação propriamente dita. Tudo que escreveu deve ser lido sob essa ótica. O objetivo da educação jamais poderia ser apenas ensinar conteúdos. Para Paulo Freire, educação é sempre “educação para a mudança”.
Sua obra mais famosa, Pedagogia do Oprimido, é distinta de todas as outras, em que revela sem subterfúgios seu intuito revolucionário. O texto não é uma pedagogia e não se destina aos “oprimidos”; é um guia para ativistas e pedagogos-ativistas aliciarem as massas.
Pedagogia do Oprimido é um livro agressivo, cheio de raiva, diria mesmo que cheio de ódio. Freire estava no começo de seu exílio quando o publicou. Havia sido preso duas vezes e fugido do Brasil pouco antes. No livro, declarou sua admiração a ditadores e justificou assassinatos políticos, como os perpetrados pela guerrilha cubana.
Muitos dizem que a educação no Brasil sofre as consequências do “método Paulo Freire”. Não é verdade. O método (que não era ideia original de Freire) destinava-se à alfabetização (e “conscientização”) de adultos e teve uso limitado. O dano causado por suas ideias é de outra natureza.
O lado diretamente nocivo da pedagogia freireana é, como apontei acima, a integração da doutrinação revolucionária (ou “para a mudança”, ou “conscientização” ou “saber crítico”) ao processo pedagógico.
Mas há também o dano indireto, causado pela interpretação equivocada de suas ideias, como, por exemplo, ao se interpretar “ninguém educa ninguém” como significando que não há distinção entre professor e aluno.
Ao dizer que “ninguém educa ninguém”, Paulo Freire se referia primordialmente à alfabetização de adultos, não à formação de crianças (e “educação”, nessa afirmação de Freire, tem esse sentido principal). Ele queria dizer que adultos poderiam ser alfabetizados, mas dificilmente “educados”.
Deturpações como essa terminam por inutilizar o que ainda poderia se salvar das ideias de Paulo Freire. E não é irônico que sejam em boa medida fruto do sucesso de seus ensinamentos, que estimularam duas gerações de professores e pesquisadores a submeter a educação ao prisma político/ideológico?
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